É curioso revisitar textos antigos e me deparar com várias formas diferentes que eu tinha de me expressar.
Muito antes da invasão das mídias sociais, com seus momentos ínfimos e descartáveis, construí pensamentos, mirabolei ideias (será que isso é verbo?) e criei contos e histórias que ficaram guardados no tempo, gravados no espaço cibernético.
No mundo da blogosfera, a gente desconhecia quem estava do outro lado, fisicamente. A gente se satisfazia com a leitura e se deliciava com outras ideias e outras formas de pensar a vida, enxergar o mundo e interpretar realidades. A conexão se dava em uma profundidade mais sináptica, mais estruturada no pensamento e mais relacionada a ideias e ideais.
Cada membro dessa comunidade tinha uma importância ímpar, e nos divertíamos com os avessos de pensamentos uns dos outros. Era instigante, apaixonante e, a cada texto, um pouco mais de cada um de nós era exposto, conhecido, respeitado e comentado.
Ah! É verdade. Éramos comentados! Os amigos sem face eram donos de palavras que acenavam ou afastavam o que defendíamos e, ao mesmo tempo, entabulávamos imensos e respeitosos diálogos sobre essas concordâncias e discordâncias tão próprias, tão nossas.
Como eram mágicas essas trocas.
Como eram interessantes esses conteúdos.
De repente, a internet ganhou ainda mais velocidade. Com ela, vieram mais imagens, menos textos, mais vídeos, menos pensamentos. As palavras, antes ululantes em nossas telas, cederam espaço para aquela foto ou aquele vídeo, naquele lugar, que deixou de ser uma detalhada e precisa descrição e se tornou uma representação digital de uma lembrança que urge ser compartilhada.
Navegando por antigas publicações, percebo que fui perdendo o hábito da escrita e da leitura, postos no escanteio pela preguiça de editar pensamentos, pela fugacidade — e por que não falar em facilidade? — dos vídeos, que valeriam mais que um milhão de palavras, e pela enxurrada de mensagens curtas em nossas diversas e quase infinitas redes sociais. Me rendi às fotografias com apenas uma linha de legenda, adornada por meras cinco hashtags, e aos vídeos precisamente editados para um público desconhecido, que muitas vezes sequer se atenta aos detalhes pensados em cada transição, cada movimento, cada marcação.
Agora, tentando retomar o hábito da leitura, vejo o quanto estou acelerado e o quanto da minha atenção ficou comprometida quando percebo que, blimblom (gente, que onomatopeia é essa?), chegou mensagem no meu telefone.
Enquanto bato minhas asas de metal, aproveito meu tempo sem conexão para dar mais uma chance a esse hábito tão prazeroso de escrever, contorcer neurônios e aguçar o olhar para dentro de mim. Deixar que essa observação se transponha em texto: essas sensações, esses sentimentos, essas ideias e essas palavras.
Não quero fazer promessa alguma; já perdi as contas de quantas delas eu quebrei. Mas revelo meu intento de relatar, mais uma vez, essas minhas aventuras, desvelando passos e repassos, nesse exercício delicioso de marcar com tinta (estou sendo nostálgico, me deixe!) e perpetuar criações minhas para que permaneçam intactas, mesmo quando, por algum motivo, eu não esteja mais aqui.
Enquanto isso, também vou girando fotos e vídeos digitais; afinal de contas, eu também me rendi a eles. Desejo apenas que minhas palavras, imbuídas de tanto carinho e pensamento, tenham a mesma oportunidade de permanecer vivas, pulsantes e vibrantes, desenhando meu caminho em misturas diversas que mesclam a ampla miríade de sentimentos que vivemos à mágica de cada tique de nossos relógios.
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