quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Minha irmã: Nopacai

A natureza decidiu que eu não teria irmãos e, assim, cresci filho único até os 20 anos, quando conheci Nopacai. Nossos gênios quase idênticos, nosso jeito e outras características fizeram que reconhecêssemos, um no outro, os irmãos que nunca tivemos. Ela, também filha única, compartilha do mesmo tom de pele, cor dos olhos e dos cabelos, embora seu liso natural seja um pouco mais liso que o meu. Enfim, uma irmã gêmea, mais nova que eu, nascida com pais diferentes. Mas gêmea na alma. No sentir. Na cumplicidade. Nas idéias.

Na noite de 25 de Agosto, cansado do trabalho, já indo dormir, recebi a notícia que ela estava em trabalho de parto com apenas 22 semanas de uma gravidez gemelar.

Me pus em marcha contínua dentro do quarto do hotel, sem parar, andando de um lado para o outro, esperando notícias que sua mãe me enviava, pouco a pouco, pelo whatsapp.

As poucas orações e rezas que sei valeram para passar o tempo de espera até saber que ela estava bem. Que as meninas, gêmeas, bivitelinas, apressadinhas, estavam bem. Na UTI, por razões óbvias, mas muito bem, segundo palavras da própria Vovó Misanuro e confirmadas na manhã seguinte pela mamãe.

Senti um alívio por elas. Por todas elas. Vovó, irmã minha e sobrinhas afilhadas. Me peguei chorando, agradecendo a Deus que tudo tenha saído bem nessa primeira etapa. Já pedindo iluminação, para saber o que fazer nas etapas seguintes com essas pessoas pelas quais tenho tanto apreço e amor e por essas pequenas que nem conheço ainda, mas já me fizeram verter lágrimas algumas vezes nessas ultimas 22 semanas.

Que venha o futuro. Que seu dono possa nos presentear cada dia mais, com aprendizados, humildade e nos permita viver com dignidade e saúde.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Sou filho de Deus e sou gay, sim!

Se tem uma coisa que me irrita demais, são esses evangélicos querendo jogar na minha cara que eu sou cria do demônio porque sou gay.

Quem eles pensam que são para apontar o dedo na minha cara e dizer que sou contra os ensinamentos de Deus, se eles são os primeiros a apontarem seus famigerados dedos e me julgar?

Os espíritas definem que somos gays porque escolhemos esse caminho antes de passar pelo véu do esquecimento e reencarnar.

Não tenho conhecimento nas outras religiões para dizer como cada uma vê a homossexualidade, mas essa luta que eles travam dizendo que estou errado, que estou no caminho tortuoso e que serei punido por isso, já deu. Já cansou. Já encheu.

Eu quero que eles cuidem de suas próprias vidas. Se não tem o que fazer, vão varrer uma casa, lavar uma pia de pratos, mas parem de encher minha paciência.

Eu sou filho de Deus.
Ele me fez assim.
Ele escolheu que eu fosse assim.

E se é das crianças que pertence o reino dos céus, por causa da sua pureza e inocência, eu digo que desse meus 5 anos de idade eu observo o corpo masculino. Antes não tinha interesse sexual, era apenas admiração. Então, eles vão contrariar essa máxima da religião, dizendo que eu estava sobre influência não-divina?

BALELA!!!

Sou gay. Sou filho de Deus. Temente a ele. Falem o que quiser. Sou feliz. Sou próspero. Sou respeitador. Sou educado. Sou tolerante.

Infelizmente, dessas pessoas, eu na posso dizer o mesmo.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Sobre "Azul Y No Tan Rosa"

Meus amigos me pegaram de surpresa e praticamente me jogaram dentro de uma sala de cinema cult para ver esse filme venezuelano, lançado no final de 2012.

Imediatamente, me envolvi com Diego (Guillermo García), um jovem fotógrafo, que conhece Fabrizio (Sócrates Serrano), seu grande amor, numa noitada em Caracas, um pouco antes de ter que receber Armando (Ignacio Montes), seu filho de 15 anos, vindo de Madrid, que passaria uma temporada com ele, enquanto sua mãe fazia um doutorado em Londres. 

Com alguns elementos previsíveis, o filme encanta pela doçura que leva uma história de drama e mexe com muitos medos que homossexuais enfrentam hoje. 

De um lado, a aceitação familiar de Diego por ser gay, seguido da relação conturbada com seu filho heterossexual que está descobrindo as maravilhas e lamúrias do amor. Ainda existe uma pincelada de drama pessoal, já que o filho também não sabia que o pai era homossexual. 

A diversidade de relacionamentos, retratada pelos pais de Diego, um casal de meia-idade que usam a discussão como forma de passar o tempo, em frente a programas populistas de TV. 

O alívio cômico, trazido pela maravilhosa personagem Delírio (Hilda Abrahamz) uma transexual que canta na mesma boite que Diego conhece Fabrizio. Delírio lembra muito Amparo, de Almodovar, em Tudo Sobre Minha Mãe, mas se diferencia pela altivez e classe, além de um par de colhões (no sentido figurado, é claro) que vem bem a calhar em certos momentos da história. 

A pedra filosofal da obra está em um grupo de rapazes que gostam de espancar gays na porta da boite. Esse é um dos vários medos e receios que gays tem, hoje em dia. E o filme se mostra realista e, de certa forma, brutal quando desenha esse cenário. 

Para evitar spoilers, eu apenas recomendo: assistam. Com o título de "My Straight Son", o filme foi ganhador de melhor filme íbero-americano no festival Goya, na Espanha e merece aplausos pela realização e qualidade de som e imagem. 

Azul Y No Tan Rosa, 2012, Venezuela, 114 min.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Meu Casulo e A Saudade

Desde que mudei de minha cidade natal para São Paulo, tento me manter presente na vida dos que deixei em Salvador. No início, era mais difícil. Hoje, com tantas ferramentas que temos à nossa disposição, essa comunicação facilitou. Tenho contato diário com pessoas que, antes, falaria por telefone a cada 15 dias.

Mesmo naquela época, no entanto, eu tinha problemas em sentir saudades. Tirando algumas vezes que me apaixonei, a saudade nunca foi exatamente um sentimento que permeou minha vida. Sinto falta de algumas pessoas e gostaria que elas estivessem mais presentes no meu dia-a-dia. Mas saudade, propriamente dita, foram poucas as vezes.

Já senti saudade, de não sair da cama. Chorar da hora que acordei até a hora que fui dormir.

Já senti saudade, de não comer. Sentir meu estômago se consumir em si mesmo, sem a mínima vontade de colocar um alimento sequer em minha boca.

Já senti saudade, de não falar. Passar dias e dias em silêncio, ouvindo apenas o som da minha respiração.

Já senti saudade, de ouvir apenas uma única música. Colocar na repetição e ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir da alvorada ao crepúsculo.

Mas foram poucas as vezes. Me permiti fazer isso porque queria sentir essa saudade em toda sua completude. Sair do poço usando a mola que tem lá embaixo. Ressurgir revigorado, com as energias restabelecidas pelo período de reclusão.

Acho que essa é uma das minhas características mais marcantes. Sou uma pessoa que reclama de tudo que incomoda. Mais de uma vez. Até o momento que paro de reclamar, porque paro de me importar.

É nesse momento que vou pro meu casulo. É no casulo que tomo minhas decisões. É no casulo que paro para pensar um pouco nas coisas, já que, sendo um ser de água, sou impulsivo por natureza. É nesse momento, que as pessoas mais próximas se preocupam, porque sabem que mudanças surgirão. Sabem que a substituição do sorriso largo pelo cenho franzido tem grandes proporções.

É, assim, eu acabo me expondo um pouco mais para quem gosta de ler um pouco dO Menino.

Obrigado, de novo, por me visitarem.

P.S.: eu utilizo a opção "seguir comentários". Depois, vou responder os comentários dos últimos posts para todos os amigos e parceiros de blog. Beijo para quem é de beijo. Abraço para quem é de abraço.